terça-feira, 16 de janeiro de 2018

GRANDES DOUTRINAS DA FÉ CRISTÃ REFORMADA (3/5) ~ JOEL BEEKE




GRANDES DOUTRINAS DA FÉ CRISTÃ REFORMADA
[PARTE 3/5 - 22 À 30]
A DOUTRINA DE CRISTO
SÉRIE [57 ESTUDOS]
Rev. Joel Beeke
[Projeto Os Puritanos]

22/57 - A DOUTRINA DE CRISTO — OS PACTOS DE DEUS
Encarando a morte face a face, José recobra as forças para um ato final de fé em Gênesis 50. Ele recordou as promessas de pacto Deus a Abraão (Gênesis 15:13-14) e assegurou a seus irmãos que Deus iria tirá-los do Egito e levá-los para a Terra Prometida. Ele ordenou a eles para “transportar os meus ossos daqui”, fazendo-os jurar. De forma semelhante, Moisés levou consigo os ossos de José, quando Israel saiu do Egito (Êxodo 13:19).

Por que José tinha certeza de que Deus cumpriria Suas promessas? É porque ele sabia que as promessas eram determinações da aliança de Deus com Abraão, seladas com o juramento de Deus, “duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta” (Hebreus 6:18). Deus havia falado. Isto era suficiente para José.

A noção de pacto ou aliança é mais velha do que a Bíblia e está embebida na cultura do antigo Oriente Médio. Os autores humanos da Escritura usam este conceito de pacto ou aliança, sem explicação ou elaboração para os seus leitores. O significado fundamental da palavra hebraica berith é “contrato” [“agreement”]. A palavra grega diatheke significa “acordo” [“arrangement”] e é aplicada para um “testamento”, ou seja, o instrumento legal pelo qual alguém dispõe de bens e propriedades terrenas, depois da morte. As duas palavras têm em comum o caráter obrigatório do que é “contratado” ou “acordado” (Gálatas 3:15). Promessas precisam ser cumpridas e obrigações precisam ser realizadas, não importa o que aconteça.

As alianças de Deus são “contratos” entre Ele e Seu povo, definindo seu relacionamento com Ele. Existem duas partes: primeiro, o que Deus promete fazer por eles, e segundo, o que eles são obrigados a fazer em resposta. Muitos pactos são registrados na Escritura: o pacto das obras, implícita na história de Adão e Eva, e sua vida no Éden regulamentada pelos mandamentos de Deus (Gênesis 1, 2); o pacto da criação com Noé, depois da destruição do mundo antigo pelo dilúvio (Gênesis 9); o pacto com Israel, promulgada no Sinai (Êxodo 19, 20); e o pacto com Davi e sua casa (2 Samuel 7).

Estes pactos foram ofuscados pelo pacto (ou aliança) da graça, feito com Abraão (Gênesis 17:7), confirmado e renovado como a “nova aliança” no sangue de Cristo (Jeremias 31:31-34; Mateus 26:28), e proclamada como “a promessa” por Pedro no Pentecostes (Atos 2:39). Os outros pactos são aplicações do pacto da graça para certas pessoas, ou para suas necessidades ou circunstâncias especiais. Alguns continuam a vincular Deus e homem (o pacto das obras, o pacto da criação com Noé), mas outros têm sido cumpridos em Cristo (os pactos com Israel e com a casa de Davi), e não estão mais vinculados.

Justificados pela fé em Cristo, os Cristãos são a semente abençoada do “fiel Abraão” (Gênesis 15:6; Romanos 4:11-12; Gálatas 3:7-9). Juntamente com seus filhos, eles estão ligados a Deus e a Seu povo, e Ele os ligou a Si mesmo, como o seu Deus (Genesis 17:7; Atos 2:39). Os filhos dos crentes, contudo, não estão salvos automaticamente pela relação pactual; ao invés disso, eles precisam ser pessoalmente trazidos ao arrependimento e à fé no Senhor Jesus Cristo. Pela graça de Deus, e através da fé salvífica, eles são herdeiros de tudo o que Deus tem lhes prometido, em Cristo; eles são obrigados, por amor a Cristo, a abrir caminho para este único Deus, confiando Nele e amando a Ele, como todo o seu coração, abandonando o mundo, crucificando a velha natureza, e andando em novidade e santidade de vida.

O Novo Testamento dá muita atenção ao desenvolvimento e várias ênfases entre o pacto antigo, feito com Israel no Sinai através de Moisés, e o novo pacto estabelecido em Cristo, no cumprimento das promessas feitas a Abraão. A epístola aos Hebreus expõe exaustivamente este desenvolvimento, mostrando a superioridade de Cristo e da Sua “nova aliança”, em relação a qualquer coisa que tenha sido concedida a Israel através de Moisés.


Notando esta diferença, alguns têm argumentado que a lei moral resumida nos Dez Mandamentos (Êxodo 20, Deuteronômio 5), como parte do pacto Mosaico, não se aplica aos Cristãos que estão debaixo do evangelho. Contudo, muito tempo antes de Moisés, a lei moral foi escrita no coração humano (Romanos 2:14). O pecado foi imputado e punido com a morte, desde Adão até Moisés (Romanos 5:13-14). O próprio Senhor Jesus Cristo declarou que Ele não tinha vindo para revogar a lei (Mateus 5:17). Como uma regra de vida para os crentes, a lei moral é parte essencial do pacto da graça.

23/57 - A DOUTRINA DE CRISTO — O ANJO DO SENHOR
Sendo a Palavra eterna e a imagem expressa do Deus invisível, Jesus Cristo é o caminho típico pelo qual Deus fala com a humanidade e aparece para ela. Isto é autoevidente no Novo Testamento, mas o Antigo Testamento também contém inúmeros testemunhos desta verdade. Ao longo do Antigo Testamento, o Anjo do Senhor é um meio pelo qual o eterno Filho de Deus fala com o homem e aparece para ele. O Filho de Deus veio em forma humana, como um Anjo do Senhor, antes da Sua vinda em carne humana, como Jesus Cristo.

O termo “anjo do Senhor” (“angel of the Lord” - versão KJV) aparece mais de cinquenta vezes no Antigo Testamento, e a frase similar “anjo de Deus” (“angel of God” - versão KJV) ocorre nove vezes (cf. Juízes 6:20-21 e 13:3,9, onde as frases são usadas como sinônimos). Enquanto algumas destas referências dizem respeito à anjos comuns (Gênesis 28:12; 32:1), muitas delas se referem a um Anjo especial. É útil notar que a palavra, em hebraico, traduzida por “anjo”, não é limitada em escopo ou alcance, como o é a palavra em inglês, “angel”. Isto significa que ela nem sempre se refere estritamente a um espírito criado e enviado dos céus. A palavra frequentemente significa simplesmente “um mensageiro”, tal como quando Jesus Cristo é chamado o “Anjo da Aliança”, que viria posteriormente em Seu templo (Malaquias 3:1).

O Antigo Testamento retrata este Anjo especial como divino, isto é, Ele é o Senhor, mas também como distinto, ou seja, Ele é exclusivo do Senhor. Estes dois pontos concordam com a compreensão da Trindade: um Senhor em três diferentes Pessoas. O Antigo Testamento demonstra estas duas verdades acerca do Anjo do Senhor,  de 5 formas:

1. O Ajo do Senhor reivindica uma autoridade divina. Ele fala como Deus e jura por Si mesmo para o cumprimento da Sua aliança (Gênesis 16:10; 22:15-16).

2. O Anjo do Senhor exibe atributos divinos e realiza ações divinas. Ele possui o conhecimento que apenas Deus possui (Gênesis 16:7-8,11,13). Ele julga e redime como Deus (Gênesis 48:15-16; Juízes 5:23; 2 Samuel 24:14-17; 2 Reis 19:35).

3. O Anjo do Senhor recebe adoração divina. Ele é tratado como o próprio Deus, recebendo reverência e sacrifícios direcionados à Sua Pessoa (Êxodo 23:20-21; Juízes 6:20-21,24). Nenhum anjo comum aceitaria a adoração de um homem (Apocalipse 19:10).

4. O Anjo do Senhor é identificado explicitamente como Deus. É dito claramente que Ele é o Senhor (Gênesis 16:13; 22:12,15-18; 31:11-13; 48:15-16; Êxodo 14:19; 23:21; Juízes 6:11-23; 13:19-22; cf. Isaías 42:8).
5. O Anjo do Senhor é uma Pessoa divina distinta. Ele é evidentemente divino e ainda cuidadosamente distinguido do Senhor (Gênesis 24:7,40; 32:24-30; Êxodo 3:2-5; 23:20; Números 20:16; Josué 5:14-15; Juízes 2:1; 6:11-24; 13:2-24; 2 Samuel 24:16; Isaías 63:9; Zacarias 1:12-13).

Consequentemente, o Antigo Testamento retrata este Anjo como uma das Pessoas da Divindade. O Anjo do Senhor deve ser identificado como a segunda Pessoa da Trindade, porque Ele é o enviado que aparece em forma humana. Ele não pode ser o Pai, que é Enviador. Ele não pode ser o Espírito Santo, que não tem forma. Mais ainda, o divino Anjo do Senhor não apareceu mais depois que o Filho de Deus veio em forma humana, na Sua encarnação. Os escritores do Novo Testamento revelam uma continuidade entre a atividade do Filho de Deus, como o Anjo do Senhor, e a Sua obra como Jesus Cristo encarnado. Em ambos, Sua forma e Sua carne, o Filho de Deus realiza a sua obra messiânica redentora.


A presença do Anjo do Senhor no Antigo Testamento comunica duas verdades importantes. Em primeiro lugar, as aparições do Anjo do Senhor prepararam a igreja para o seu Cristo. A forma temporária do Anjo despertou um profundo amor e anseio do povo de Deus pela vinda de Jesus Cristo, em carne. A igreja do Antigo Testamento buscou diligentemente por seu Amado, galgando os montes, pulando sobre os outeiros, e habitando com ela (Cânticos 2:8). Em segundo lugar, as aparições do Anjo do Senhor prepararam Cristo para a Sua igreja. O Seu ministério, aliviando as misérias do Seu povo ao longo do Antigo Testamento, foi uma prévia da Sua missão messiânica. As aparições do Filho de Deus podem ser vistas como expressões de santa impaciência pela erupção da Sua presença na terra, quando Ele tomou o seu papel tríplice como Profeta, Sacerdote, e Rei do Seu povo.

24/57 - A DOUTRINA DE CRISTO — O FILHO DE DAVI
Tanto o Antigo como o Novo Testamentos frequentemente se referem ao Filho de Davi (ver 2 Samuel 7:12; Mateus 22:41-46; Marcos 10:47). É claro que Davi tinha muitos filhos, mas apenas um deles, Salomão, o sucedeu no trono (1 Reis 1:32-34). Contudo, quando a Bíblia cita “o filho de Davi”, ela está frequentemente se referindo a alguém muito maior do que Salomão, ou do que qualquer outro descendente meramente humano de Davi. Colocando de forma simples, o termo “Filho de Davi” se tornou um termo para o Messias, que também possui outros títulos, tais como “Filho de Deus”, “Servo do Senhor”, e  o “Ungido”. Nós sabemos, do Novo Testamento, que Cristo é o verdadeiro Filho de Davi (Mateus 1:1; Apocalipse 22:16).

Qual é o significado de Cristo ser o Filho de Davi? Em primeiro lugar, isto significa que Deus é fiel em Suas promessas. Deus prometeu que a semente de Davi, ou seja, a sua dinastia, seriam “firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre” (2 Samuel 7:16). Embora muitos dos descendentes de Davi, tais como Roboão, Asa, Ezequias, e Josias, sentaram no trono de Judá, depois do exílio na Babilônia nenhum dos descendentes físicos de Davi reinaram. Além disso, em Jesus Cristo, Deus foi fiel a Davi nesta promessa. Deus disse a Maria, a mãe de Jesus, se referindo ao Filho que iria nascer dela: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lucas 1:32-33).

Em segundo lugar, isto significa que Cristo tomou para Si mesmo uma natureza humana, através da linhagem de Davi. Paulo chama a atenção para isto em Romanos 1:3, “com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi”. Cristo não veio apenas como Deus verdadeiro, mas também como homem verdadeiro. Ele estava contente em tomar para Si uma natureza humana, e especificamente uma da linhagem de Davi.

Em terceiro lugar, isto significa que Cristo foi como Davi, de várias formas, apesar de ser diferente dele em muitas outras. Filhos são frequentemente parecidos com seus pais, e a vida e o trabalho de Davi prefiguraram a vida e o ministério de Cristo, de algumas maneiras. Ambos foram perseguidos por seus inimigos. Ambos entregaram a si mesmos para o serviço de Deus. Ambos foram conhecidos por sua bondade para com as pessoas, tais como Mefibosete (2 Samuel 9), Bartimeu (Marcos 10:46-48), e a mulher cananeia (Mateus 15:22,28). É claro que Cristo foi diferente de Davi de muitas outras maneiras. Ele nunca pecou. Ele foi autorizado a construir o tempo do Senhor. O Seu reinado é para sempre. E a Sua morte foi meritória.

Em quarto lugar, isto significa que Cristo foi maior do que Davi. De acordo com o Salmo 110:1, Davi chamou o Seu próprio Filho de “Senhor” (cf. Mateus 22:45). Ele fez isto porque o Seu Filho era, na verdade e ao mesmo tempo, o Filho de Deus.

Em quinto lugar, isto significa que aqueles que estão enxertados em Cristo podem ser chamado de filhos de Deus. Se Cristo não tivesse se tornado o Filho de Davi, pecadores não poderiam ter sido salvos, e tampouco poderiam ter recebido o privilégio de chamarem a Deus de “Pai”, e de serem herdeiros de Deus juntos com Cristo, o grande Filho de Davi. O Salmo 89:26-36 concede o direito e o privilégio de adoção a todos aqueles que pertencem ao Filho de Davi. Isto é confirmado repetidamente no Novo Testamento (Romanos 8:15-17; Gálatas 4:6; 1 João 3:1-3).


Finalmente, isto significa que Cristo é o grande Noivo da Sua igreja e povo. Os cânticos de Salomão falam do relacionamento entre Cristo e Sua igreja, sob os nomes de Salomão, o filho de Davi, e Sulamita. Cristo é o definitivo Filho de Davi, que recebe a noiva para Si mesmo, cuida dela, a nutri e a sustém, e mostra para ela a Sua beleza e graça, para sempre.

25/57 - A DOUTRINA DE CRISTO — OS OFÍCIOS DE CRISTO
Cristo se comprometeu com a Sua obra, no intuito de obter a salvação para o Seu povo (1 Timóteo 1:15). Tanto a vocação quanto os componentes do Seu ofício são dignos de serem considerados. A vocação é uma ação de Deus, o Pai, através da qual Ele vincula o seu disposto Filho aos Seus ofícios, através de um pacto eterno (Salmos 110:4; Isaías 53:10; Lucas 22:22; Atos 4:28; Hebreus 5:4,6; 7:24). Isto envolveu escolher os fins (Isaías 42:1), predestinar os meios (1 Pedro 1:20), e enviar o Filho (João 3:17).

Existem três componentes no ofício de Cristo (alternativamente denominados de três ofícios distintos). Em primeiro lugar, Cristo exerce o ofício de Profeta (Deuteronômio 18:15). Através deste componente, Ele revela perfeitamente a plena vontade de Deus. Este ofício tem vários nomes: Cristo é um Mestre (Mateus 23:7-8), o Apóstolo da nossa confissão (Hebreus 3:1), o Anjo da Aliança (Malaquias 3:1), o Verbo de Deus (João 1:1), a própria Sabedoria de Deus (1 Coríntios 1:24), e os Tesouros da sabedoria e do conhecimento (Colossenses 2:3).

Para ser o perfeito Profeta, Cristo tinha que ser tanto Deus quanto homem. Foi necessário para Ele ser Deus, para alcançar a compreensão e o ministério perfeitos da vontade de Deus (João 1:18; 3:13; 1 Coríntios 2:11,16). Se ele não tivesse sido homem, Ele não poderia ter devidamente declarada esta vontade para o homem, através da Sua própria pessoa (Hebreus 1:1-2).

Em segundo lugar, Cristo exerce o ofício de Sacerdote. O Seu sacerdócio é segundo a ordem de Melquisedeque (Hebreus 7:17) e, portanto, é indestrutível (Hebreus 7:16); estável e perfeito (Hebreus 7:18-19); eterno (Hebreus 7:24); e perpétuo, não deixando nenhum espaço, ou não tendo nenhuma necessidade por outros sacerdotes (Hebreus 7:24-25).

Na execução do Seu ofício sacerdotal, Cristo é o Sacerdote, o sacrifício, e o altar. Ele é o nosso Sacerdote, em ambas as Suas naturezas (Hebreus 5:6). Ele foi o sacrifício, principalmente em Sua natureza humana; as Escrituras atribuem o Seu sacrifício primariamente ao Seu corpo (Colossenses 1:22; Hebreus 13:12; 1 Pedro 2:24) e sangue (Colossenses 1:20). Contudo, este sacrifício se tornou eficaz por causa da natureza divina de Cristo, como o próprio Filho de Deus (Atos 20:28; Romanos 8:3) – o que é corretamente compreendido de acordo com a ideia do altar (Hebreus 9:14; 13:10,12,15). A função do altar é a de santificar a oferta, garantindo-lhe uma dignidade além de si mesma (Mateus 23:17). Nisto é demonstrada a razão pela qual Cristo, como Sacerdote, teve que ser tanto Deus quanto homem: se Ele não fosse homem, Ele não poderia ter feito expiação pelo homem; se Ele não fosse Deus, o sacrifício não teria sido suficiente.

Em terceiro lugar, Cristo exerce o ofício de Rei (cf. Deuteronômio 17:14-20). O Seu reino é alternativamente chamado de reino de Deus, o reino de paz e glória, o reino de luz e glória, o reino dos céus, e o mundo vindouro. No Seu reino, o governo de Cristo está no Seu poder para dispensar e administrar, com força e autoridade, todas as coisas pertencentes à salvação do homem (Salmos 2:6; Daniel 2:44; Lucas 4:36). Este reinado é universal; isto é, ele engloba todas as eras, sendo eterno (Daniel 2:44; 7:14; Mateus 22:43-45). O governo de Cristo está acima de todos os homens (Daniel 7:14; Apocalipse 17:14) – e até mesmo sobre todo o mundo e suas criaturas (Efésios 1:21,22). Cristo governa tanto a atividade exterior quanto a interior do homem (Romanos 14:17), distribuindo tanto a vida eterna quanto a morte (Apocalipse 1:18). Para os herdeiros do reino, Cristo, como Rei, traz a grande paz e a mais perfeita alegria (Isaías 9:6; Efésios 2:16; Hebreus 7:2). Novamente, é necessário que Cristo seja Rei tanto como Deus, quanto como homem: como Deus, com o intuito de que Ele possa ser o Rei espiritual de nossas almas, distribuindo a vida eterna e a morte; como homem, para que Ele possa ser o Governante da mesma natureza do Seu corpo.


O ofício triplo de Cristo anuncia três verdades. Na primeira, ele identifica o estado do homem e como ele é remediado em Cristo. O homem sofre debaixo da ignorância, o que é resolvido pelo ofício profético de Cristo; habita na alienação em relação a Deus (esta comunhão é restaurada pela obra sacerdotal de Cristo); e não possui nenhum poder para viver uma vida santa (esta falta é retificada pela realeza de Cristo). Na segunda, o ofício triplo de Cristo revela a maneira pela qual a salvação é trazida para o homem. Ela é pregada por Sua profecia; obtida por Seu sacerdócio; e aplicada pelo Seu reinado. Finalmente, o ofício triplo expõe que a salvação é realizada por Cristo. Cristo primeiramente ensinou aos outros a vontade de Deus, e então ofereceu a Si mesmo, e finalmente entrou para governar em Seu reino.

26/57 - A DOUTRINA DE CRISTO — A ENCARNAÇÃO DE CRISTO
Enquanto pronunciava a Sua maldição sobre Adão e Eva, por causa do seu pecado, Deus prometeu prover para eles um Salvador, nascido dentre os seus próprios descendentes, e que iria sofrer nas mãos do inimigo das suas almas, mas que no final, iria esmagar este inimigo debaixo dos seus pés e libertar o seu povo do poder dele (Gênesis 3:15). Este Salvador precisa ser “a semente da mulher”, possuindo uma verdadeira natureza humana. Apenas como um homem, dentre os seres humanos, Ele poderia se levantar como o nosso campeão e confrontar o Diabo, para destruir a ele e a todas as sua obras (1 João 3:8).

Conforme o tempo passou, muitas promessas foram adicionadas a esta primeira. O Salvador precisa ser “a semente de Abraão”, no qual todas as nações seriam abençoadas (Gênesis 22:18). Ele precisa vir de Jacó, como uma estrela que aparece no céu da noite, para governar entre as nações, e levantar-se de Israel, como um cetro nas mãos de Deus (Números 24:17). Ele precisa ser erguido dentre os Seus irmãos Israelitas como um profeta, a exemplo de Moisés (Deuteronômio 18:15-19). Ele precisa ser um “sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Salmos 110:4). Ele precisa ser descendente de Davi, e sentar no seu trono para reinar como Rei: “O SENHOR jurou a Davi com firme juramento e dele não se apartará: Um rebento da tua carne farei subir para o teu trono” (Salmos 132:11).

Estas promessas afirmaram que o Salvador do povo de Deus precisa ser um homem verdadeiro, pertencente a uma nação, tribo e família específicas. Outras promessas indicaram que este verdadeiro Filho do homem também seria o Filho de Deus: “Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei” (Salmos 2:7); e “Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação. Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra” (Salmos 89:26-27).

Paulo anuncia o tempo em que as duas vertentes de promessas encontraram um cumprimento comum, no advento de Cristo como o Deus-homem: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gálatas 4:4).

João introduziu o Filho de Deus como “o Verbo”, existindo desde toda a eternidade e preexistindo antes da criação, sendo “com Deus”, como uma Pessoa distinta da Trindade, e sendo Ele propriamente Deus (João 1:1-2). Ele então fala simplesmente, “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1:14). Os teólogos, portanto, falam da encarnação do eterno Filho de Deus. João acrescenta, “cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”. João sabia que cada Cristão é um filho de Deus por adoção, em nome de Jesus (João 1:12), mas que apenas Cristo é o eterno e natural Filho de Deus.

Levou muitos séculos parra a igreja compreender todas as implicações da encarnação. No final, teólogos ortodoxos concluíram que nós devemos afirmar igualmente que Cristo é Deus e que Cristo é homem. Diminuir uma natureza, ou a outra, significa um erro fatal. Estas duas naturezas existem em uma Pessoa: “O qual, embora seja Deus e homem, não é dois mas um só Cristo” (Credo de Atanásio, artigo 34).


Como Deus, Cristo é mais poderoso do que todas as criaturas; Ele contou com o poder da Sua Divindade para suportar o peso da ira de Deus. Como homem, Ele é como um daqueles pelos quais Ele concedeu a Sua vida, “em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos… foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 2:17; 4:15). Na mesma natureza humana que pecou, Cristo fez compensação pelo pecado. Portanto, é necessário que Cristo seja tanto Deus quanto homem. Quando Cristo assumiu a nossa natureza, a partir da carne e sangue da Virgem Maria, Ele conferiu grande honra a ela. Na ascensão de Cristo, aquela mesma natureza humana foi levada aos céus, como uma garantia certa de que Ele irá, a tempo devido, tomar todas as Suas crianças para Si mesmo.

27/57 - A DOUTRINA DE CRISTO — OS ESTADOS DE CRISTO
Os teólogos, na tradição Reformada, tem diferenciado desde muito tempo, a encarnação de Cristo em dois estados, baseados em Filipenses 2:6-11: Seu estado de humilhação (vv. 6-8) e Seu estado de exaltação (vv. 9-11).

A Humilhação de Cristo

O ministério terreno de Jesus Cristo foi uma amostra de humildade divina. Em todos os aspectos deste ministério, nós podemos ver o humilde Jesus – desde a sua mãe grávida sendo forçada a dar a luz a Ele em um estábulo de animais, uma vez que não havia quarto para ela e seu marido em uma hospedaria (Lucas 2:7), até o Seu enterro em uma cova de outra pessoa (Mateus 27:57-60). Ele foi criado em circunstância humildes -  o marido da Sua mãe, José, foi um carpinteiro, e não um homem de influência ou riquezas, de acordo com os padrões do mundo (Mateus 13:55).

Depois de uma vida de boas ações, fazendo o bem, curando os enfermos, e pregando o evangelho (Marcos 1:14-15; Atos 10:38), Ele foi preso pelas autoridades Judaicas e Romanas, apesar de ser inocente de qualquer acusação (Mateus 27:4,19; João 18:38). Aqueles que eram próximos à Ele, os Seus discípulos, O abandonaram, Pedro negou que O conhecia, e Judas Iscariotes O traiu (Marcos 14:50,66-71). Ele, que é “a Verdade”, e alguém que ama perfeitamente a Deus, foi acusado de ser um blasfemo (Marcos 14:61-64). Ele foi cuspido pelos membros da guarda do templo Judaico (Marcos 14:65; Lucas 22:63-65; 23:11), e sofreu zombarias nas mãos dos soldados imperiais Romanos, sendo açoitado e escarnecido (Mateus 27:26-31; Marcos 15:15-20; João 19:1-3). Ele foi despido de Suas vestes e deixado à morte sem nada para cobrir a Sua nudez (Marcos 15:24; Lucas 23:34; João 19:23-24). A Sua morte foi a mais vergonhosa e dolorosa conhecida pelos Romanos, a crucificação (João 19:16-18; Hebreus 12:2). Mesmo sendo o inigualável Filho de Deus, os transeuntes e um salteador não arrependido, que estava sendo sacrificado ao lado Dele, zombaram Dele (Mateus 27:38-44; Marcos 15:29-32; Lucas 23:35-39). Assim, o Autor da vida, que ressuscitou dos mortos, foi enterrado no sepulcro de José de Arimatéia (João 19:38-42; 1 Coríntios 15:4).

O mais horrendo de tudo isso, contudo, foi o sentimento de abandono pelo Seu Pai celestial, que inundou a alma de Jesus na Sua morte (Mateus 27:46; Marcos 15:34), pois na Sua morte Ele experimentou e suportou, em favor dos Seus eleitos, a ira infernal que eles mereciam (1 Coríntios 15:3; 2 Coríntios 5:21, Hebreus 9:11-14,28; 1 Pedro 2:24; 1 João 2:2; Apocalipse 1:5).
           
A Exaltação de Cristo

O salmista predisse que Deus não iria permitir que a alma do Seu Santo permanecesse na sepultura (Salmos 16:10; Atos 2:24-31), pois nem a morte e nem Satanás tem algum domínio sobre Ele. Sendo assim, Deus Pai, através do Espírito Santo, ressuscitou Jesus dos mortos no terceiro dia depois da Sua morte (Mateus 28:6-7; Marcos 16:6; Lucas 24:13-43; João 20:1-19; Atos 2:32; Romanos 8:11), e Ele foi visto em várias ocasiões pelos Seus apóstolos e por um seleto grupo de discípulos, por um período de quarenta dias, durante o qual Ele os ensinou acerca do reino de Deus (Mateus 28:9,16-20; Lucas 24; João 20-21; Atos 1:3-8; 1 Coríntios 15:4-8). Este foi o começo da Sua exaltação.

Depois da Sua ressurreição, Ele foi elevado aos céus (Lucas 24:50-51; Atos 1:9-11; Efésios 4:8), onde Ele permanece assentado à direita de Deus Pai (Atos 2:33-34; Colossenses 3:1; Hebreus 1:3; 8:1; 10:12; 1 Pedro 3:22), o lugar de poder e autoridade absolutas. Ele recebeu glória e honra dentre os cidadãos do céu, anjos e santos glorificados (Hebreus 1:6), e foi declarado como Senhor sobre tudo e todos (Atos 2:36; 5:30-31; Filipenses 2:11; 1 Pedro 3:22).


Um dia, o senhorio de Cristo vai ser conhecido por toda a humanidade, pois Ele está voltando para transformar este vale de lágrimas e esta ruída pecaminosa, em um reino de amor e justiça, no qual Ele irá reinar com Seu Pai para sempre; “e o seu reinado não terá fim” (Lucas 1:33).

28/57 - A DOUTRINA DE CRISTO — A SATISFAÇÃO DE CRISTO PARA A JUSTIÇA DE DEUS
Nenhuma promessa do evangelho é mais fundamental ou preciosa do que o perdão dos pecados. Quando nossos pecados se levantam contra nós, nós afundamos sob o peso da convicção, e conhecendo a justiça das queixas e acusações apresentadas contra nós. Nós ansiamos por saber que Deus irá nos mostrar misericórdia, e afastar a nossa culpa de nós.

Contudo, como um Deus justo pode perdoar pecados? Ele não pode negar a Si mesmo, e portanto, Ele não pode permitir que o pecado fique sem punição. O pecado acarreta um terrível tipo de dívida moral e espiritual. O pecador reteve de Deus o amor e a obediência devidos à Ele, como o nosso Criador. Como resultado, o pecados é mantido refém da justiça de Deus e deve perecer debaixo da ira de Deus, a não ser que a dívida moral e espiritual seja completamente reparada ou satisfeita.

Esta visão do pecado agiganta-se amplamente no pensamento de Cristo. Ele a inseriu no Seu modelo de oração, como a quinta petição: “perdoa-nos as nossas dívidas” (Mateus 6:12). Ele viu o povo que Ele veio para salvar como estando morrendo debaixo do peso da dívida que eles tinham contraído através do pecado contra Deus. Ele veio ao mundo para “dar a sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20:28), ou seja, para realizar a satisfação, para pagar a dívida completamente, e então assegurar a libertação dos devedores em relação à punição.

Paulo trabalha estas ideias de um modo convincente em Romanos 3:23-25. Ele mostrou que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (v. 23). Contudo, ele acrescenta que os crentes foram “justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (v. 24). “Redenção” significa a “liberação efetuada pelo pagamento de um resgate”.

Porém, Paulo ainda não terminou. Porque a morte de Cristo é um resgate por muitos? É porque Deus estabeleceu ou preordenou o Seu Filho encarnado para ser “a propiciação mediante a fé no seu sangue” (v. 25). Uma propiciação é uma oferta pelos pecados, que leva em consideração não apenas a culpe pelo pecado, mas também a ira de Deus contra nós, por causa dos nossos pecados. A ira de Deus é a Sua justiça despertada e em movimento.

A fúria da ira de Deus pode ser extinguida apenas quando as demandas da Sua justiça são satisfeitas ou completamente pagas. Paulo declara que Deus tem provido esta satisfação (ou pagamento), ao enviar o Seu próprio Filho para morrer na cruz. Desta forma, Deus pode ser justo e, ao mesmo tempo, “o justificador daquele que tem fé em Jesus” (v. 26). A misericórdia não precisa mais ser contida pela justiça; a justiça não precisa ser negada em nome da misericórdia.

Em outras palavras, Deus puniu o pecado no Seu Filho amado, Jesus Cristo, com a morte amarga e vergonhosa na cruz. Como o pagamento de um resgate, a justiça de Cristo é aceita como uma satisfação pela dívida do pecador, absolvendo-o de toda a culpa. Como uma propiciação, a Sua justiça cobre os nossos pecados e nos livra da ira e do julgamento de Deus. Nós podemos receber e aplicar a nós mesmos esta justiça e satisfação, não de outro modo senão apenas através da fé, operada pelo Espírito Santo, em Cristo. “Ele é a nossa paz” (Efésios 2:14).

Tal é a doutrina de Cristo e dos Seus apóstolos. Tristemente, as gerações mais recentes têm professado estar constrangidas pelo que elas consideram ser uma “teoria bárbara” (“selvagem” ou “primitiva”), da expiação pelo sangue. Na verdade, o que mudou foi a sua visão do pecado: Como meras fragilidades e erros humanos acarretam a ira divina? O Deus de amor não iria ignorar tais coisas tão sem importância? Vendo deste prisma, a morte de Cristo parece literalmente uma matança exagerada da parte de Deus.


Cristo antecipou tais interpretação errôneas, e então instituiu os sacramentos do santo batismo e da Seia do Senhor, para direcionar a nossa fé para o Seu sacrifício na cruz, como o único fundamento para a nossa salvação. O batismo é um sinal do caminho de lavagem e purificação dos pecados, pelo Seu sangue; a Seia do Senhor é uma manifestação ou exibição da morte de Cristo, até a Sua volta. O sacramentos selam em nossos corações as promessas de redenção através do Seu sangue e do perdão dos pecados.

29/57 - A DOUTRINA DE CRISTO — A RESSURREIÇÃO DE CRISTO E A NOSSA
Considerando-se a ressurreição de Cristo, três pontos precisam ser expressos: em primeiro lugar, a necessidade da ressurreição; em segundo lugar, as características significativas da ressurreição; e em terceiro lugar, os usos da ressurreição para confortar os filhos de Deus.

A ressurreição de Cristo foi necessária por três razões. Em primeiro lugar, a Sua ressurreição evidenciou uma vitória completa sobre a morte. Para os crentes, a ressurreição confirma que a obediência completa de Cristo foi uma obra tanto de satisfação perfeita, destruindo a morte, quanto de natureza meritória, ganhando a vida. Em segundo lugar, a ressurreição de Cristo foi demandada pela virtude da Sua natureza divina, como o Filho de Deus. Ele próprio é o Autor da vida; por esta causa, não é nem apropriado, nem possível, Ele ser sobrepujado pela morte.

Assim, é imperativo que Cristo levante da morte para a vida. Em terceiro lugar, a ressurreição de Cristo confirmou que Sua obra sacerdotal consistiu de duas partes. Uma delas foi o pagamento por pecados, através do Seu próprio sacrifício na cruz. A outra foi aplicar a virtude deste sacrifício para todo o crente. Portanto, Cristo ressuscitou parar completar esta segunda parte do Seu sacerdócio, em favor do Seu povo.

A ressurreição de Cristo teve características significativas. Em primeiro lugar, Ele ressuscitou como uma pessoa pública, permanecendo no lugar do Seu povo não apenas na morte, mas também na ressurreição. Consequentemente, quando Cristo ressuscitou, toda a igreja ressuscitou Nele (Efésios 2:6). Em segundo lugar, Cristo, por Seu próprio poder, ressuscitou a Si mesmo dos mortos (João 2:19; 10:18). Isto demonstrou que Ele não foi apenas homem, mas também verdadeiro Deus. Além disso, isto exibiu o poder de Cristo parar ressuscitar também a Sua igreja, da morte para a vida. Em terceiro lugar, Cristo ressuscitou com um terremoto. Isto foi para provar que ele não perdeu nenhum poder por causa da morte, mas que Ele ainda permanece o absoluto Senhor do céu e da terra, diante do qual a terra tremeu.

Em quarto lugar, a morte e ressurreição de Cristo foram acompanhadas por outras maravilhas também. Por exemplo, Mateus 27:52-53 declara que os sepulcros foram abertos e muitos corpos ressuscitaram. Isto ocorreu para que a igreja possa saber que há uma virtude renovadora e vivificadora na ressurreição de Cristo, por meio da qual Ele é capaz de ressuscitar aqueles que estão mortos em pecado, para a novidade de vida. Isto exprime a ordem de tudo: Cristo ressuscitou, e então os santos depois Dele; portanto, Ele é o primogênito de entre os mortos, com muitos para ressuscitar após Ele (Colossenses 1:18).

Isto direciona para o uso da ressurreição no conforto dos filhos de Deus. Estes confortos são três. Em primeiro lugar, a ressurreição de Cristo serve para a justificação de todos os que Nele creem (Romanos 4:25). De fato, a vida foi o próprio salário que Ele foi enviado para ganhar; portanto, sendo reconciliados mediante a Sua morte, muito mais seremos salvos pela Sua vida (Romanos 5:10). Em segundo lugar, a ressurreição de Cristo é o meio notável pelo qual Deus opera santificação (1 Pedro 1:3; Romanos 6:4-5). Como Cristo, pelo poder da Sua Divindade, libertou a Sua humanidade da morte e da culpa dos nossos pecados, então também Cristo libertou o crente da corrupção da natureza em que ele residia na morte – “se vivemos, para o Senhor vivemos” (Romanos 14:8).

Em terceiro lugar, a ressurreição de Cristo revela a ressurreição da igreja. Aquele que ressuscitou a Cristo dos mortos, “vivificará também o vosso corpo mortal” (Romanos 8:11). Por isso, Cristo é chamado de “as primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20). Sua ressurreição é o penhor e a segurança da ressurreição da igreja. Ele é o cabeça da Sua igreja; portanto, todos os Seus membros devem segui-lo, em seu tempo. Os piedosos ressuscitam pelo poder de Cristo, seu Redentor, que os ressuscita para que eles sejam participantes dos benefícios da Sua morte (Hebreus 3:14), que são desfrutar, em corpo e alma, o reino dos céus que Ele afetuosamente trouxe para eles. Os piedosos ressuscitam, como Cristo, pela virtude da própria ressurreição de Cristo. Eles ressuscitam, como Ele, para a glória eterna.

30/57 - A DOUTRINA DE CRISTO — O REINO DE CRISTO
O reino de Deus é a Sua regência e o Seu domínio sobre todas as coisas; ele surge da Sua natureza como Rei (Salmos 99:1-5; 1 Timóteo 1:17). Deus é incrivelmente majestoso (Isaías 6:1-7). Ele é o incomparável Rei da glória, todo-suficiente, que têm domínio sobre a vida e a morte, infinitamente santo, um infinito oceano de amor (2 Samuel 2:2-10; salmos 136:1-3). Deus criou o mundo para constituir um reino para o Seu Filho (Hebreus 1:2). Como Cristo é o herdeiro do mundo, Seu reino vai reunir todas as nações juntas, através do evangelho (Mateus 24:14).
Cristo traz Seu reino passo-a-passo na história. A promessa de Deus em relação à extensão universal do reino de Cristo (Daniel 7:13-14) é cumprida progressivamente, cada vez que Cristo atua no mundo para salvação e julgamento. O reino de Cristo se opõe e triunfa sobre o reino de Satanás (Lucas 11:18-22). Satanás tenta construir um reino rival, usurpando o domínio do Criador sobre a terra (Gênesis 3:1-6; Jó 1:7; cf. Isaías 14:12-14). Cristo assumiu o Seu ofício imediatamente, depois da queda do homem (Gênesis 3:15), e sempre que Deus apareceu ao homem, foi o Filho que veio (João 1:18). Davi foi o maior tipo pessoal de Cristo (Ezequiel 34:24), e o estabelecimento do reino de Davi e de seus filhos foi plantação de Deus, desde a raiz, à partir do qual o Renovo messiânico viria (2 Samuel 7:12-14; Isaías 11:1; Jeremias 23:5). O Antigo Testamento, como um todo, foi preparação para a chegada do reino, quando o grandioso Rei e Salvador veio encarnado (Isaías 9:6-7).

O reino jorra da fonte, a partir da obra de Cristo, em sua morte e ressurreição. Pela Sua morte na cruz, Cristo conquistou os poderes do mal, destruindo o Golias espiritual com a sua própria espada (João 12:31; 16:11; Colossenses 2:15; Hebreus 2:14). Além disso, a redenção de Cristo não é primeira e principalmente uma vitória sobre Satanás, mas uma aquisição (Marcos 10:45); Sua humilhação foi o preço necessário para satisfazer a lei de Deus (Gálatas 3:10,13; 4:4-5). O reinado oficialmente começou depois da ressurreição de Cristo, quando Ele foi assunto ao céu, assentou-se à destra de Deus, e derramou o Espírito para dar poder para Sua igreja levar o evangelho para todas as nações (Atos 1:6-9; 2:23-36).

A essência do reino redentivo de Cristo é o Espírito (Isaías 11:1-2). O Pai concedeu o Redentor, o Filho adquiriu a redenção, e o Espírito é a bênção adquirida (Gálatas 3:13-14; 4:4-6) – redenção Trinitariana. No Seu Espírito, o Rei exaltado está conquistando o diabo na terra, especialmente através da conversão e santificação dos eleitos (Romanos 5:17,21; 14:17; Apocalipse 17:14). A conversão liberta o pecador do reino do diabo e do pecado, e o transporta para o reino de Cristo (Romanos 6:14,17; Colossenses 1:13).

O contexto do reino é a igreja, onde o poder real de Cristo opera (Mateus 16:16-19; 18:20; 1 Coríntios 4:19-21; 5:3-5; 2 Coríntios 13:1-4). Cristo dirige externamente o Seu povo através da Sua Palavra e oficiais (João 18:36-37; Efésios 4:10-11), e internamente, através da influência da Sua graça, através do Seu poder (Salmos 110:3), que faz o Seu povo ter vontade de obedecer. Quando Cristo reavive Sua igreja, crentes se regozijam em ver os acontecimentos de seu Deus e Rei, em Seu santuário (Salmos 68:24). Contudo, nem tudo no reino visível de Cristo, a igreja, pertence a ela; alguns são como peixes ruins pegos pela rede, que serão jogados fora no julgamento final (Mateus 13:47-50).


Deus prometeu expandir o reino de Cristo sobre todas as nações (Salmos 72:8-11). Os reinos satânicos deste mundo e suas falsas religiões irão, no final de contas, todos fracassar (Daniel 2:44; 7:9-14), e Cristo irá reinar como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Apocalipse 19:16). O reino irá alcançar sua última realização na felicidade e santidade da vida eterna, quando Cristo retorna em glória (Mateus 13:43). Em um sentido, a obra mediadora de Cristo será realizada e Ele irá entregar o reino para o Seu Pai (1 Coríntios 15:28). Contudo, em outro sentido, Ele irá reinar, como nunca antes, nos corações do Seu povo, que estará com Ele para ver o Rei em Sua glória, para seu deleite eterno (Isaías 33:17; João 17:24; Tito 2:13).