sábado, 21 de março de 2015

AS MARCAS DA VERDADEIRA IGREJA (1/5) ~ WES BREDENHOF


PRATICA A PURA PREGAÇÃO DO EVANGELHO 
 MANTÉM A PURA ADMINISTRAÇÃO DOS SACRAMENTOS
EXERCITA A DISCIPLINA 


CONFISSÃO BELGA



ARTIGO 29 

As marcas da verdadeira e da falsa igreja
Cremos que devemos distinguir, pela Palavra de Deus, com diligência e muito cuidado, qual é a verdadeira igreja, pois todas seitas que há hoje no mundo arrogam para si o nome de igreja.1 Não falamos aqui dos hipócritas que se misturam aos fiéis da igreja, pois embora participem visivelmente da igreja não fazem parte dela.2 Mas falamos do corpo e da comunhão da verdadeira igreja que se deve distinguir daquelas seitas que se dizem igreja. A Igreja verdadeira é reconhecida pelas seguintes marcas: Ela pratica a pura pregação do evangelho;3 mantém a pura administração dos sacramentos segundo Cristo os instituiu;4 exercita a disciplina na igreja para a correção e punição dos pecados.5 Em síntese, governa a si mesma segundo a pura Palavra de Deus,6 rejeita tudo o que lhe for contrário7 e tem Jesus Cristo como único cabeça.8 Assim se reconhece com certeza a verdadeira Igreja, e ninguém tem o direito de se separar dela. Os que pertencem à igreja devem ser reconhecidos pelas marcas dos cristãos: eles crêem em Jesus Cristo como o único Salvador;9 fogem do pecado e buscam por justiça;10 amam o verdadeiro Deus e o seu próximo11 sem se desviar para a direita nem para a esquerda; e crucificam a carne com as obras delas.12 No entanto ainda permanece neles uma grande fraqueza à qual combatem, pelo Espírito, todos os dias das suas vidas.13 Apelam continuamente para o sangue, sofrimento, morte e obediência de Jesus Cristo no qual têm a remissão de seus pecados, por meio da fé nEle.14 A falsa igreja, contudo, atribui mais autoridade a si mesma e às suas ordenanças do que à Palavra de Deus; não quer se submeter ao jugo de Cristo;15 não administra os sacramentos conforme Cristo ordenou em Sua Palavra, mas acrescenta e sub- trai deles o tanto que lhe convém; baseia-se mais nos homens do que em Jesus Cristo; persegue aos que vivem de maneira santa, segundo a Palavra de Deus, e aos que lhe repreendem os seus pecados, cobiça e idolatrias.16
Pela distinção uma da outra, é fácil conhecer essas duas igrejas.
1. Ap 2.9. 2. Rm 9.6. 3. Gl 1.8; 1Tm 3.15. 4. At 19.3-5; 1Co 11.20-29. 5. Mt 18.15-17; 1Co 5.4, 5, 13; 2Ts 3.6, 14; Tt 3.10. 6. Jo 8.47; Jo 17.20; At 17.11; Ef 2.20; Cl 1.23; 1Tm 6.3. 7. 1Ts 5.21; lTm 6.20; Ap 2.6. 8. Jo 10.14; Ef 5.23; CL 1.18. 9. Jo 1.12; 1Jo 4.2. 10. Rm 6.2; Fp 3.12. 11. 1Jo 4.19-21. 12. Gl 5.24. 13. Rm 7.15; GL 5.17. 14. Rm 7.24, 25; 1Jo 1.7-9. 15. At 4.17, 18; 2Tm 4.3, 4; 2Jo .9. 16. Jo 16.2.

AS MARCAS DA VERDADEIRA IGREJA (1/5)
Wes Bredenhof

Parte 1 de uma palestra sobre artigo 29 da Confissão Belga para o Encontro da Fé Reformada (Recife) no dia 1 de novembro 2013.
Você tem estado no médico recentemente? Se você tem visitado médicos recentemente, você pode está agradecido pelo bom treinamento que os médicos nessa Idade Moderna recebem.  De volta ao século XIX, essa realidade na questão médica era bem diferente. As escolas médicas eram mais motivadas por dinheiro do que por qualquer outra coisa.  Qualquer pessoa podia se tornar médico depois de estudar somente dois anos. E foi exatamente um relatório por uma fundação chamada Carnegie em 1910 que, transformou essa realidade. E esse relatório ajudou a modificar a realidade da saúde no Canadá, nos Estados Unidos e pelo mundo. E uma das recomendações cruciais desse relatório dizia respeito às Escola Médicas, e ao ordenamento das classes distintas de médicos.  Eles deveriam ter pelo menos quatro anos de treinamento para se tornar médicos. O primeiro ano deveria ser dedicado a um entendimento de: como é que um ser humano saudável pode ser reconhecido de dentro para fora, do interior para o exterior. E o segundo ano, deveria se especializar em questões referentes às doenças, patologias, no estudo das doenças, daquilo que é anormal na realidade do corpo humano saudável. E, aparentemente, as escolas médicas, de formação médica, continuam seguindo essas mesma estruturas até hoje. Primeiro, você aprende o que é ser normal e ser saudável, e aí é que você começa aprender sobre o que é anormal e sobre o que não é saudável, sobre o que é ser doente.
E no Artigo 29, a Confissão Belga aplica exatamente o mesmo procedimento. Nós estamos considerando o que é a Igreja de Cristo, e onde podemos encontrar a Igreja de Cristo. Então se a igreja é tão importante, tão necessária, torna-se então crucial que nós entendamos quais são os critérios para que nós possamos encontrá-la. É muito importante que nós tenhamos ferramentas para detectar o que é que a igreja de Cristo verdadeiramente é, e o que é que ela não é. Então, resumindo o ensino bíblico, a Confissão Belga nos dá essas ferramentas para fazer essa identificação. Então, nós vamos aprender como identificar a coisa real, a Igreja real, e também como identificar a igreja verdadeira pelo que é falso, então nós vamos,aprender a discernir, a identificar o que é a igreja.
Mas eu quero me livrar de uma coisa específica logo no início. Tem alguns que dizem, “Há, a Confissão Belga foi escrita muito tempo atrás!” E eles realmente tem razão.  Ela foi escrita há muito tempo atrás, ela foi escrita em 1561; mas o argumento é de que naquele tempo as coisas eram muito diferentes, eram muito distintas. E ai o argumento é: “No tempo lá do Guido DeBrés, que compôs o texto, as coisas eram muito simples, você só tinha a Igreja reformada, e só tinha a Igreja Católica Romana. E era muito fácil identificar qual era a diferença entre as duas, entre a Reformada e a Católica Romana.  Você tinha,então, a Igreja verdadeira e a Igreja falsa; então, fica muito fácil e ninguém consegue confundir as duas. Era simplesmente preto e branco, mas, então, o argumento continua dizendo, “Isso foi a 450 atrás, e as pessoas levam o argumento a diante dizendo, “hoje as coisas são bem diferentes, hoje nós temos tantas igrejas ao nosso redor, e ai não é tão fácil como naquele tempo de discernir qual é a igreja falsa ou verdadeira”. E eles concluem dizendo que o artigo 29 da Confissão Belga não é tão útil para nós, hoje, na nossa Idade Moderna.
Tem um pouco de verdade nessa afirmação. Mas, de fato esse tipo de ideia, de argumento é uma super simplificação exagerada. Deixa eu falar um pouco para vocês sobre a realidade histórica: Guido de Brés e também os reformadores estavam circundados ali, não somente, pelos romanistas mas também por muitas outras igrejas distintas. Por exemplo, na Holanda haviam igrejas Luteranas nos dias em que a Confissão Belga foi escrita. É verdade que não tinham muitas, mas elas estavam lá. Guido de Brés tentou realmente se unir a essa igrejas. E também tinham os anabatistas, e é importante lembrar que os anabatistas não eram um grupo unidos.  Não tinha uma única igreja anabatista, não é o tipo da situação que você vai para uma cidade encontrar a Igreja anabatista da cidade tal. Eventualmente, os Menonitas se tornaram o grupo mais evidente dentro do anabatismo. Mas, nos dias da Confissão, haviam dezenas de grupos diferentes dentro do movimento anabatista. Guido de Brés escreveu um livro enorme a respeito dos anabatistas, é muito mais de novecentas páginas, o livro.  E, naquele livro, Guido de Brés reconhecia já que havia uma grande diversidade no meio dos anabatistas. E ele cita diversas, ele mesmo reconheceu então naquele texto que havia grande diversidade entre os anabatistas. Alguns deles eram equivalente aos pentecostais modernos, outros grupos eram equivalentes aos Batistas de hoje. Muitos, também tinham pouquíssimo respeito à palavra de Deus, outros consideravam de verdade as Escrituras como verdade infalível. Em alguns grupos anabatistas você ainda conseguia escutar a pregação genuína do evangelho, mas entre outros você iria escutar, na maior parte das vezes, legalismo, moralismo, era essa a pregação, ou talvez bons conselhos. Muitos chegavam ao ponto de negar à doutrina da Trindade, eram classicamente reconhecidos como hereges, já outros eram comparativamente ortodoxos no que diz respeito a diversos pontos no que diz respeito à doutrina cristã. E o meu ponto é simplesmente esse, que ninguém pode afirmar que, no contexto histórico daquele tempo, o cenário era preto e branco como este, era somente Igreja Reformada e Roma, não era dessa maneira! É como eu já disse tem um pouco de verdade aqui, e essa verdade é que hoje existe um número ainda maior de igrejas se declarando como igrejas de Cristo. Mas negar que existia qualquer tipo de diversidade no século XVI é simplesmente equivocado, errado. Então, nós podemos concluir, creio que vocês vão concordar comigo que o Artigo 29 da Confissão Belga não perdeu a sua utilidade, ela fala para nós, e vem de um contexto e ela continua a falar para nós o nosso contexto atual onde o mesmo tipo de diversidade continua a existir. Entretanto, hoje, essa diversidade existe num grau muito maior. Então, certamente, essa pode ser e continua sendo a confissão de diversas Igrejas Reformadas ainda, hoje, no século XXI.
Continua…